Na minha infância a nossa rede social era a rua
A gente brincava na rua, sem medo, e a gente se virava com muito pouco – umas latinhas vazias, algumas bolinhas de gude, um pedaço de corda -, a gente era feliz por dentro, não importando a riqueza lá de fora.
Não existe quem, a certa
altura da vida, não comece a nutrir saudosismo em relação à sua época de
infância, de adolescência, de juventude.
O tempo traz muita coisa boa, arruma,
ajusta, acerta as contas e vem impregnado de saudades – saudades do que se viveu,
do que se fez, dos gostos, dos cheiros, das cores, de gente. Nossas vidas são
especiais e, por isso mesmo, permanecem junto a nós, aqui dentro, sempre e para
sempre. Quantas pessoas fazem parte da nossa jornada e vão embora, muitas vezes
para nunca mais, e, mesmo assim, tornam-se inesquecíveis? Professores, colegas
de escola, de rua, de clube, familiares, vizinhos, enfim, sempre sorriremos ao
nos lembrarmos de gente querida que passou por nós e deixou magia conosco.
Sempre teremos de seguir faltando um pedaço, com lembranças apertadas de quem
nos tocou fundo o coração.
Lugares, casas de avós, lares, salas de aula, sítios, muitos ambientes
preencherão nossas vidas, muitos deles ficando impressos em nossas almas. Quem
nunca sentiu um cheiro, como de grama molhada, que evoca as mais tenras
lembranças de algum lugar que volta dentro de nós, trazendo nitidamente cada
canto, cada sofá, cada janela, cada recanto de jardim por onde fomos felizes,
onde a alegria então era uma constante?
E, embora a infância passe rapidamente – enquanto, tolamente, somos
crianças ansiando por nos tornarmos adultos -, ela nos deixa recordações do
tamanho do mundo, como se uma vida toda não fosse suficiente para aquilo tudo.
A gente brincava na rua, sem medo, e a gente se virava com muito pouco – umas
latinhas vazias, algumas bolinhas de gude, um pedaço de corda -, a gente era
feliz por dentro, não importando a riqueza lá de fora.
Na verdade, embora nós sempre achemos que o nosso ontem foi o melhor, que
nossas lembranças são mais especiais, cada pessoa levará sempre consigo
recordações mágicas, lembrando-se com saudade do que viveu, junto de pessoas
que valeram a pena. Porque a gente guarda o que alimenta o coração. Porque a
gente leva junto do peito quem compartilhou alegria conosco, mesmo que por
pouco tempo. É assim, afinal, que a gente se recarrega diariamente e continua
seguindo, em busca de ser feliz, na esperança de reviver tudo o que deixou o
nosso caminho mais iluminado.
Fonte: http://www.contioutra.com/na-minha-infancia-nossa-rede-social-era-rua/
Foto: http://www.harvardartmuseums.org/art/321469
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