Quando não tenho ninguém por perto para abraçar, abraço o meu gato, o meu cachorro, o meu ursinho de pelúcia. E se tenho alguém para abraçar, abraço, e TAMBÉM abraço o gato, o cachorro, e só deixo de fora o urso de pelúcia. Eu adoro abraço! Descobri que gostava de abraço depois de grande, porque na minha infância não havia a cultura do abraço gratuito, aquele que se dá e se recebe por nada. Na minha família de origem, os abraços eram regulados para chegadas e partidas, e mesmo assim, quando se pensava que o abraço estava começando, ele já tinha terminado. Eram abraços legítimos mas sem consistência, que explodiam como flash no escuro, e desapareciam sem deixar lembranças. Eram abraços desbotados de afeto, corados de vergonha, de direção hesitante, quase como uma senha distribuída com parcimônia e formalidade. Toma lá e vá embora! Foram tantas as inadequações internas entre os membros da nossa família que, apesar do amor que nos unia, vira e mexe, em vez de abraço...