Texto: Faz sentido um Dia Internacional da Mulher?



Feminismo


Hoje não se celebra o Dia Internacional da Mulher. Hoje assinala-se este dia. No dia em que for possível simplesmente celebrar, ele deixa de fazer sentido. E quando ele deixar de fazer sentido é sinal de que estamos a viver num mundo muito mais justo e equilibrado, onde os seres humanos são celebrados de igual forma todos os dias. Onde uma pessoa não é menor, ou menosprezável, simplesmente por ter nascido com determinado género. Neste caso, o feminino.
(...)
No mundo inteiro, quase 14 milhões de crianças são obrigadas a casar todos os anos antes de atingirem a maioridade. Mais 80% destas crianças são meninas. Dados das Nações Unidas revelaram também recentemente que pelo menos 200 milhões de meninas, raparigas e mulheres foram vítimas de mutilação genital.
(...) estamos longe de viver num mundo ideal. Enquanto existirem mulheres que são questionadas sobre a roupa que estavam a vestir após sofrerem um ataque brutal que lhes ceifa a vida, este dia faz sentido. Tal como enquanto ainda existirem Sakinehs que podem ser apedrejadas até à morte por supostos adultérios confessados sob tortura. Ou enquanto existirem Feng Jianmeisa quem arrancam um filho do ventre aos sete meses de gravidez por não ter dinheiro para pagar uma multa. Ou estudantes que são violadas até à morte em autocarros da Índia e cujos violadores continuam a achar que tiveram motivos para o fazer. Ou casamentos forçados de adolescentes a quem não é permitido o amor, ou excisões a meninas como forma de purificação ou tráfico de mulheres para redes de prostituição, ou milhares de mulheres mortas anualmente em supostos crimes de honra e demais atrocidades. E também enquanto existirem estrelas de Hollywood a serem ameaçadas de divulgação de fotos suas privadas em redes sociais como represália a discursos públicos sobre os direitos das mulheres, ou enquanto mulheres sejam discriminadas em contexto laboral, ora com salários médios mais baixos do que os dos homens, ora com discriminação relacionada à questão da maternidade.
Infelizmente esta lista podia ser mais extensa. Tão, mas tão mais extensa. O que é assustador. Não estou com isto a colocar as mulheres no eterno papel de vítimas. Também há muitos homens discriminados mundo fora, todos os dias. Mas no que toca às mulheres a escala é incontestavelmente outra. Falo de questões reais e concretas relacionadas especificamente com o sexo feminino, que só não vê quem não quer. E que não podem ser eternamente chutadas para o lado com respostas como "são questões culturais" ou “sempre foi assim”.
Até hoje já foi percorrido um longo caminho no que diz respeito à discriminação de género. Mas ainda falta percorrer outro caminho tão, ou mais longo ainda. Felizmente, por cá já vamos tendo cada vez mais voz para falar, gritar ao mundo o que se passa. Haja coragem e, em muitos casos, meios e apoio a tempo e horas. Principalmente o das autoridades competentes. 

Fonte: http://expresso.sapo.pt/blogues/bloguet_lifestyle/Avidadesaltosaltos/2016-03-08-Faz-sentido-um-Dia-Internacional-da-Mulher-

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